26/05/17

Entrevista a um Ex-atleta GCVR, parte 4


1. Identifica-te
Rafael Sobrinho Correia, 42 anos, nadador federado no GCVR desde os 9 anos aos 20 anos, tendo retornado ao clube, aos 25 anos na categoria de Master até aos dias de hoje.

2. Em que é que o GCVR/Equipa de Natação te ajudou a ser aquilo que és hoje, a nível pessoal e a nível profissional?
Não consigo dissociar a pessoa e o profissional que sou, dos ensinamentos e atitudes que fui adquirindo e desenvolvendo como atleta de natação. Felizmente tive e tenho uma família que sempre promoveu o desporto como parte integrante e essencial do processo educativo e de formação de carácter.
Ter pertencido e pertencer a uma equipa de natação e considerando a natureza do desporto em questão, potenciou em mim aspetos como, o respeito, a concentração, a organização e método, o perfeccionismo, a responsabilidade, o espirito competitivo e por fim a autoestima. A gestão e controlo de emoções e o foco em objetivos foi efetivamente algo que fui desenvolvendo ao longo dos treinos e competições em que participei.
Não se ensina, recorrendo somente a conceitos teóricos, a capacidade de sofrimento e de superação perante uma dificuldade. É necessário experimentar, viver e praticar. O treino diário, as horas passadas dentro e fora de água, os km efetuados, os estágios, as competições ganhas e perdidas estiveram na base e refletem-se atualmente na minha personalidade!

3. Quais os maiores ensinamentos que retiraste do facto de teres praticado natação de competição?
Desde muito cedo quis ser envolvido na competição. Tinha uma semana de treino na atual piscina municipal de Vila Real, com o Professor José Carlos, a primeira vez que ouvi o meu nome numa câmara de chamada e o som da partida num bloco, para os 200m livres. Na altura, posso hoje confidenciar, que doeu, doeu muito quer fisicamente quer psicologicamente. Mas foi aí que obtive os primeiros ensinamentos: humildade, trabalho e esforço são necessários para o sucesso. Afinal, não bastava ter “jeito”!
À data e após esta experiência, longe estava de imaginar, que o nervosismo e adrenalina que se sente nos instantes que antecedem uma prova, me acompanhariam, quase todos os fim-de-semana da minha adolescência e juventude. Estas experiências foram tão marcantes, que é comum ainda hoje em dia, colegas de equipa a antigos nadadores, manifestarem saudades destes procedimentos e sensações. O boom dos masters na natação, está, na minha opinião, muito relacionado com este vício da adrenalina que se sente aquando de uma prova.
Fruto da mobilização de treinadores como o Professor Jorge Campaniço e de atletas oriundos de outros clubes, foi possível reinterpretar a competição no GCVR. O clube assumiu-se como uma entidade representativa da natação de toda uma região, que até então era desconhecida, no plano coletivo ou individual, a nível nacional.
As vitórias e os objetivos alcançadas na natação pelo GCVR, campeonato de clubes, campeonatos nacionais de categorias e absolutos e torneios internacionais, alimentaram o gosto por este desporto, promovendo o sentimento de orgulho, de posse e de identidade pelo clube e pela cidade. Neste contexto, também aqui, os ensinamentos são expressivos, pois considero que existe uma enorme divida de reconhecimento, para com todos os atletas da minha geração e técnicos envolvidos. A promoção da natação de competição e da identidade e representação da cidade de Vila Real no panorama desportivo Nacional constitui, na minha opinião, uma divida que a cidade de Vila Real e o GCVR insistem em não reconhecer e manter.

4. Quais são as melhores recordações que guardas desse tempo?
Salientar os melhores momentos num percurso de quase 20 anos de treinos, estágios e competições, é um exercício que faço com um persistente sorriso facial.
São inúmeras as situações, caricatas e alegres, em contexto de treino, estágio e provas, que transformavam e aliviavam o ambiente sério, concentrado e exigente que envolve um treino ou uma competição. Efetuar a correta gestão dos momentos, foi algo que fui adquirindo com a idade e com o apoio e ensinamentos, no GCVR, com os Técnicos José Carlos, Jorge Campaniço e António José Silva (atual presidente da FPN) e no Sporting Clube de Braga (SCB) com o Técnico José Manuel Borges.
Efetivamente os momentos mais marcantes, nunca chegam a ser verdadeiras recordações, pois estes perpetuam-se nas grandes amizades e em momentos que insisto em manter, como o treino, provas ou simplesmente convívios.
Contudo, reservo com especial carinho, memórias como:
·         A minha primeira prova fora do distrito e em representação do GCVR, em Castelo de Vide, na qual pude vestir pela primeira vez o famoso fato de treino vermelho do clube;
·         A obtenção do primeiro mínimo absoluto na prova de 200m C por um atleta de GCVR, para os campeonatos nacionais absolutos, e a participação individual e solitária nesses campeonatos;
·         O gosto pela modalidade, expresso na dedicação ao treino, mesmo quando este exigia que nos deslocássemos diariamente para cidades como, Chaves ou Viseu para fazermos treino de água sempre que a piscina municipal estava avariada;
·         A conquista, pelo GCVR e SCB, dos campeonatos nacionais de clubes;
·         As finais em provas internacionais como o Meeting Internacional do Porto, do Funchal ou do extinto Meeting Internacional da TAP;
·         A tristeza e angústia, da não participação no campeonato nacional de categorias, por lesão no joelho, no ano em que detinha a melhor marca Nacional dos 50m Mariposa;
·         A interação e amizade com pessoas que considero as minhas referências desportivas, de personalidade, carácter e profissionais;
·         Por último e apesar de outras mais recordações que possuo, o presente e persistente apoio e motivação da minha Mãe e Pai, na prossecução de melhores resultados e novos objetivos desportivos.

5. Costumas acompanhar os resultados do GCVR?
Sim, inclusive no período em que não fui atleta do GCVR. A ligação ao meu clube de formação (secção de natação), no qual me desenvolvi como nadador e pessoa, sempre esteve presente. Para isso contribuíram as experiências vividas, as competições, as vitórias, as derrotas e acima de tudo os treinadores e colegas de equipa. O sentimento de pertença e de representação de uma geração não se perde só porque vestimos outra “camisola”. Fico satisfeito e orgulhoso pelos recentes acontecimentos e conquistas obtidas no mundo da natação pelos atletas e treinadores do GCVR, como participações olímpicas, europeias, records nacionais, campeonatos nacionais de clubes e individuais. Não esqueço e acompanho com especial interesse o modelo de formação do clube, apesar das condições de que dispõem para treinar. Este facto, é recorrentemente utilizado por mim como exemplo de superação e de cultura desportiva.
Os resultados que hoje refletem a atividade desportiva do GCVR, são certamente um orgulho, para todos os atletas que passaram pelo clube. Penso que se faz justiça, afirmando que toda a minha geração se revê nos resultados obtidos sentindo-se corresponsável, pois o clube começou a ter expressão nacional connosco!

6. Que conselhos dás aos atletas mais novos?
Apesar de, lamentavelmente, não ter seguido uma carreira académica na área do desporto, a natação esteve sempre presente na minha vida ao ponto de ter decidido frequentar um curso de treinador de natação. Com este, tive a oportunidade de divulgar alguns dos conhecimentos, que fui adquirindo maioritariamente ao longo da minha experiência como nadador. Muitas destas experiências, fruto do espirito de grupo fomentado, pelo colegas, pelos atletas mais velhos, diferentes clubes e treinadores, possibilitaram-me estabelecer referências, modelos e exemplos que recorrentemente uso para motivar ou até mesmo definir atitudes e comportamentos nos mais novos. Exemplo deste facto, no papel de Pai de uma criança de 10 anos também praticante de desporto, recorro habitualmente ao meu passado como nadador para melhor aconselhar e sustentar opções.
Penso não estar muito errado quando afirmo que atual técnico do GCVR, João Matos, enquanto nadador infantil/juvenil vivenciou situações no clube, que nos dias de hoje utiliza como referências técnicas e comportamentais para obter e maximizar os excelentes resultados individuais e coletivos que tem alcançado. Esta responsabilidade e conhecimento é transmitido aos atuais atletas da mesma forma que a minha geração o fez, às vezes inadvertidamente e involuntária. Identifico-me nos sucessos alcançados nos dias de hoje, porque “mal ou bem” constituímos na altura, os ditos modelos e referências desportivas.
Termino, “aconselhando” os mais jovens, apesar de vivermos numa sociedade em que o “Mérito e o Esforço” é preterido em favor de uma cultura de “seguidismo oco e corrupção”, que vale a pena ser diferente procurando ser MELHOR, quanto mais não seja, para quando nos olharmos ao espelho, ter a consciência de não sermos somente, “mais um”!

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